O texto é grande mas acho que vale a pena.
Os read-made estão ficando cada vez mais lixo!
Estava vendo algumas matérias de designers como o de costume, quando me deparei com algo extremamente ridículo...
A pior parte é conhecer do assunto e saber que trata-se de um Read-Made muito cruel, e a intenção dessa "arte" é causar polêmica. Infelizmente em mim causou, mas não estou escrevendo para divulgar o "trabalho" e sim uma petição.
Pra mim já bastou quando Wim Delvoye tatuou o corpo inteiro de alguns porcos vivos ou quando criaram a Alba (uma coelha fluorescente).
Read-made é arte, mas somente quando não envolve a vida de outro ser como fazia Duchamp na famosa "A Fonte" e outras críticas.
O negócio é convencer esses "artistas" malucos a não usarem animais (de maneira alguma) no meio dos seus "inventos".
O que tem de artístico em um cão passando fome? Muita coisa... Mas que fosse expresso por uma pintura ou escultura, além de não agredir a vida alheia teria muito mais valor e durabilidade...
Que expusessem apenas a terceira fotografia (abaixo) em um quadro para retratar a miséria sofrida pelo animal (a expressão, enquadramento e composição falando por si) e tratassem ou mesmo soltassem o pobre cão em seguida!
Explicando melhor o que é Read-Made, vou usar um texto antigo meu que traz muitos exemplos...
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O que é Read-Made?
Em 1917, o já então renomado artista plástico Marcel Duchamp coloca um mictório de cabeça para baixo e o batiza como "A Fonte". Duchamp simplesmente assinou o objeto com o pseudônimo R. Mutt e depois o inscreveu numa exposição.
O item bizarro exemplifica a noção de se tirar um objeto comum de seu cenário habitual para colocá-lo num contexto novo e incomum. Foi através desta obra que Duchamp definiu pela primeira vez o conceito de Read-Made.
Defendendo a escultura original, Duchamp desafiou preconceitos sobre a definição de arte. Afirmou que não importava se o "Sr. Mutt" havia feito ou não a obra com suas próprias mãos, o importante era ele a ter escolhido. Portanto, o que importa não era a sua criação, mas a idéia e a seleção. Não por acaso, afirmaria mais tarde que "será arte tudo o que eu disser que é arte" - ou seja - "Todo o acervo artístico que nos foi legado pelo passado só é considerado arte porque alguem assim o disse e nós nos habituamos a admiti-lo". Donde se conclui que a "Monalisa", de Da Vinci ou o "enterro do Conde de Orgaz", de El Greco, não seriam mais arte do que um urinol ou uma pá de lixo.
Da criação à arte...
Um designer chamado Stefano Giovanonni trouxe sem querer para a atualidade esse conceito de arte, porém, com uma criação própria e não selecionada. Giovanonni projetou uma escova de vaso sanitário semelhante a um belo vasinho de flores batizado como "Merdolino".
O Merdolino hoje é um objeto de luxo cobiçado por diversos designers e jamais (eu disse jamais!!) usado no banheiro! Talvez por se rum belo objeto de decoração ou por levar o nome de um designer tão famoso.
Um artista da Costa Rica, Guillermo Habacuc Vargas, expôs um cão vadio faminto numa galeria de arte. O cão estava preso numa corda curta. Ninguém alimentou ou deu água ao pobre animal que morreu durante a exposição.
Guillermo Habacuc Vargas foi o artista escolhido para representar o seu país na "Bienal Centroamericana Honduras 2008".
Existe uma petição onde é pedido que ele NÃO RECEBA este prêmio. Assinem preenchendo o Nome, email, Localidade e País.
http://www.petitiononline.com/13031953/petition.html
O que é Read-Made?
"O Read-Made considera que a característica essencial do dadaísmo é a atitude anti arte. É uma manifestação ainda mais radical da sua intenção de romper com o fazer artístico, uma vez que trata de apropriar-se do que já está feito: a escolha de produtos industriais, realizados com finalidade prática e não artística (urinol de louça, pá, roda de bicicleta), elevados à categoria de obra de arte. Nesses casos, está implícito também o propósito de chocar o espectador". (Wikipedia - modificado)Da escolha à arte...
Foto: http://www.designware.ch
De homem à "Deus"...
Nascido no Rio de Janeiro, mas que vive em Chicago, o artista plástico Eduardo Kac vem causando polêmica no mundo todo. Qualificar Eduardo como artista é pouco, corre-se o risco de banalizar sua obra. A pecha de cientista, apenas, não faz jus ao diretor do Departamento de Artes de Chicago. O carioca premiado, reconhecido mundialmente como um dos pioneiros na arte eletrônica, está mais para pensador: polêmico como todos que tem algo a dizer. Aos 40 anos, Kac, hoje radicado nos EUA vem apelando para o que chama de "arte transgênica".
Para esse novo tipo de "arte", pincel e tinta são coisas do passado. A principal ferramenta é a engenharia genética. A doce coelhinha Alba é a prova concreta disso. Alba parece uma coelha branca absolutamente normal, mas iluminada por luz branca, todas as suas células (inclusive dos olhos) emitem um estranho brilho esverdeado.
A "criação" de Kac é um animal transgênico, que recebeu genes de uma água-viva fosforescente. Ela é o resultado de uma encomenda polêmica, que vem motivando protestos de defensores dos direitos de animais e de cientistas.
foto: http://pphp.uol.com.br
Foto: http://www.fathom.com
Eduardo encomendou-a a geneticistas franceses porque queria usar o animal transgênico numa performance, à medida que sua existência tornou-se conhecida, cresceram os protestos contra o uso da biotecnologia para uma exibição.
Apesar de "fabricada" por um laboratório, ela resiste a se deixar aprisionar nas categorias aplicáveis ao Read-Made. Privada de fonte luminosa que provoca sua luminescência, ela se assemelha à uma coelha comum. À primeira vista, ela parece corresponder à definição surrealista do Read-Made. Afinal, não é ela um "objeto alcançado à dignidade de obra de are pela simples vontade do artista"?
Do animal ao palhaço...
Alba lembra o ocorrido com o artista conceitual belga Wim Delvoye, que expôs porcos vivos tatuados afirmando serem obras de arte. Os porcos já foram expostos no Museu de Arte Conteporânea de Londres e na galeria Laura Pecci em Milão. Porém, barrados na Bélgica pelo Ministério da Saúde do país, porque violaria a leia sobre proteção do bem-estar dos animais.
Agredir a vida é arte?
Os "artistas" têm se colocado em um nível bastante questionável: até onde agredir a vida é arte? Uma pobre coelha transgênica ou indefesos porcos sendo expostos como aberrações é bonito? É aceitável? É arte?
"A Fonte", rejeitada pelo membros dos Independentes de Nova York (grupo crítico de artes), revelou as normas do julgamento estético de seu tempo (as normas de uma época anterior à "submissão filosófica" da arte, que permaneciam ligadas aos valores manuais de execução, de originalidade). Após muito tumulto e críticas, a coelhinha fosforescente foi proibida de sair do laboratório para exposição pública. Porém, ela é um roedor inofensivo. Assim como a polêmica causada na epóca por "A Fonte", hoje é o medo da coelha Alba que depois da forte primeira impressão será aceita sem crítica e sem o conceito verdadeiro de arte.
Prefiro venerar uma roda de bicicleta do que todas as aberrações que muitos aceitam calados. Ao menos foi ousado sem gozar da vida de outro ser para sua realização.
Os maiores culpados por este movimento ter tomado um rumo tão terrível somos nós mesmos por admirá-lo e alimentá-lo ou condená-lo sem impor barreiras.
Meu medo é que pela popularidade dessa petição o Habacuc receba o prêmio, pois a intenção deste tipo de arte é chocar e causar polêmica. Pois bem, estamos ajudando-o de certa maneira...
Como sabemos, no meio das artes todo mundo é meio "doido" e é bem capaz dessa petição servir não só para promover sua "obra" como para colocá-la em primeiro lugar por ter conseguido exatamente a reação do público que como ele queria (raiva, comoção, manifesto, etc).
Tenho a impressão de que não fará efeito, mas não esqueçam de assinar a petição, pois quando dei minha assinatura estava em 35740 e agora são mais de 90 mil pedidos de boicote ao "artista".
Não custa tentar...
Bóris, um dos vários porcos tatuados de Delvoye. Atualmente encontram-se empalhados em museus
Foto: http://www.ploto.net
Foto: http://www.ploto.net