Os biocombustíveis são nossos vilões? Vieram para auxiliar na preservação dos recursos não-renováveis ou desbancar áreas de plantações destinadas à produção de alimento? Essas são discussões muito extensas que requerem atenção e muito senso crítico na hora de serem respondidas.
O que são Biocombustíveis?
Quando um combustível tem origem biológica (não sendo fóssil) é chamado de biocombustível. Para obter o produto final, pode-se misturar diversas plantas, frutos e até mesmo lixo orgânico. As plantas mais populares na obtenção de biocombustível são: a cana-de-açúcar (Saccharum sp), a mamona (Ricinus communis) e a soja (Glycine max).
O combustível de origem biológica surgiu como alternativa ecologicamente correta em relação ao combustível fóssil, já que o segundo é extraído de matérias não renováveis (minerais), que contribui negativamente para o efeito estufa, pois polui o ar com partícula e gases de sua queima e em alguns locais do país são responsáveis pelo fenômeno da chuva ácida.
Biocombustíveis impulsionam a produção agrária
Segundo Guilherme Frederico Lamb para o site Agropecuária Brasil (2008) “Graças aos biocombustíveis o setor (agropecuário) teve novo fôlego e ensaia uma reação, voltando a produzir, assim sendo nessa historia, os biocombustíveis são a ferramenta que esta dando equilíbrio no setor, proporcionando futuramente maior produção de alimentos”.
A produção de biocombustíveis incentiva de forma direta o trabalho no campo, pois depende diretamente de matéria orgânica para a sua existência. No Brasil, destaca-se a produção do biocombustível Etanol (CH3 CH2OH) também conhecido como álcool etílico. Extraído da cana-de-açúcar, faz parte de diversos produtos como perfumes, bebidas e motores de explosão na indústria automobilística.
Crise alimentícia no mundo
De tempos em tempos a economia mundial sofre alguma quebra, países vivem em guerras e algumas crises assombram o futuro de milhões de pessoas. Faz muito tempo que países sofrem com a escassez de comida, porém, o ano de 2008 oferece destaque a essa situação sendo tema central da cúpula do G8 (grupo que reúne os sete países mais industrializados e a Rússia).
Vários são os fatores para a falta de alimento mundial. Alguns serão destacados e questionados a seguir.
Biocombustíveis e o aumento de preços nos alimentos
A produção de biocombustível é muito criticada, pois leva-se em consideração que o cultivo de matéria-prima para a fabricação do mesmo diminui o espaço nas lavouras dedicado à produção de alimentos.
Como citado anteriormente, o Brasil é um dos maiores produtores de etanol com base na produção de cana-de-açúcar e um dos países que mais defende a produção do combustível de origem biológica negando que esse afete na produção alimentícia. Com base no site Veja (2008) “em tese, há ainda 77 milhões de hectares a ser ocupados no Brasil sem afetar o espaço dedicado a outras culturas. Atualmente, a cana-de-açúcar ocupa 7,2 milhões de hectares, menos do que a soja (21 milhões) e o milho (14,4 milhões)”.
Uma outra crítica é que a cultura voltada para a produção de biocombustíveis não somente “tiraria” a área de produção agrária de alimentos como também desmataria novos locais para serem utilizados como plantações.
O fato é: matérias-primas que antes eram exclusivamente destinados à alimentação terão um mercado mais amplo e com isso deverão ter uma administração severa quanto à porcentagem de matéria utilizada na produção alimentícia para que o mundo não passe por outra crise no futuro.
Visão mundial sobre os biocombustíveis e o setor alimentício
O mundo parou para discutir a relação entre os biocombustíveis e a crise alimentícia. Entidades como a ONU (Organização das Nações Unidas), o FMI (Fundo Monetário Mundial), países como o Reino Unido, Cuba Bolívia e Venezuela e até mesmo o Banco Mundial opuseram-se à produção de biocombustíveis alegando que a atual crise deve-se pelo desvio de alimentos como matéria-prima de etanol e outros.
De acordo com a revista virtual Ambiente Brasil (2008), o Reino Unido declarou que reduzirá a expansão de seus biocombustíveis após divulgar um relatório afirmando que “este tipo de combustível pode aumentar as emissões de gás que causam o efeito estufa e que contribui com a alta dos alimentos”.
Havana propôs a Organização das Nações Unidas que estude os impactos causados por biocombustíveis produzidos a base de milho e cana-de-açúcar na questão dos alimentos. De acordo com o site da revista Veja, o Brasil rebateu afirmando que “o etanol já é produzido por aqui há 35 anos e isso nunca implicou uma redução da área destinada à agricultura”. Enquanto isso, o Brasil fecha acordo com a Indonésia para estudar mais sobre a produção de biocombustíveis.
Os principais países produtores de etanol no mundo são: o Brasil com a cana-de-açúcar, os Estados Unidos com milho, o Canadá com trigo e milho, a China com a mandioca, a Índia com a cana e melaço, a Colômbia com a cana e óleo de palma e a Alemanha com simplesmente a metade do biodiesel produzido mundialmente.
O Brasil acaba por lucrar um pouco com a notícia do mercado de biocombustíveis. De acordo com o site G1 (2008), atualmente o país é líder em diversos produtos de ordem agrícola e por isso “o país é uma das nações mais preparadas para suprir a atual escassez de alimentos”.
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Outros fatores para o aumento de preços
O biocombustível não é o grande vilão no aumento de preços, ou pelo menos ele não está sozinho. Diversos fatores contribuem de forma negativa para o problema, desde econômicos a fenômenos naturais.
Fatores naturais e climáticos: chuvas arrasadoras, terremotos, ventos fortes, extensas secas e doenças nos rebanhos são fatores que influenciam de maneira negativa na produção de alimento.
Aumento populacional e de renda: A força dos países emergentes e o crescimento populacional aumentam notavelmente a demanda por alimento. Até mesmo a geração de renda entre os mais pobres afeta no equilíbrio da economia alimentícia, uma vez que as pessoas que tiveram um acréscimo de renda irão alimentar-se melhor e exigir mais alimento do mercado. e acordo com o site Veja (2008) “Em 1985, cada chinês consumia em média 20 quilos de carne por ano. Hoje, consome 50.”
Enfraquecimento do Dólar: A queda do preço do Dólar gera o aumento no preço das matérias-primas, já que é a moeda usada em quase todos os mercados de cotação de commodities (matérias-primas). O preço final sobe para compensar a crise de desvalorização da moeda.
Alimento para o gado: Aumentando a demanda de alimento também aumenta a demanda de ração e grãos consumidos no setor da pecuária, assim subindo o consumo de matéria prima para alimentar o gado gerando mudanças no preço final do mesmo.
Preço do petróleo: O preço de fertilizantes e gasolina aumenta significantemente com o aumento de sua matéria prima (petróleo). O preço aumentado nesses produtos também eleva o preço da produção final em alimentos provenientes dessas fazendas, já que as mesmas gastarão mais com transporte e manutenção dos terrenos.
Problemas de exportação: A preocupação com o suprimento interno de alimentos faz com que alguns países fechem suas portas para a exportação do mesmo, assim prejudicando os demais que dependem de produção vinda de fora.
Para tudo na vida temos fatores prós e contras e os biocombustíveis não são diferentes disso. Enquanto todo o estardalhaço mundial é criado em volta de uma questão que pode ser monitorada e controlada (a utilização de alimentos na produção desses combustíveis) esquece-se o fato de que essa descoberta descarta o uso dos recursos não-renováveis e diminui riscos contra a Camada de Ozônio.
Vale lembrar que a “crise” não foi causada exclusivamente pelo etanol ou qualquer outro biocombustível e desenvolver um olhar mais crítico e menos centrado sobre a questão para que ela possa ser resolvida ou mesmo parcialmente amenizada.