A educação tem sido fator polêmico durante séculos. O controle e a manipulação estiveram fortemente presentes durante a Idade Média, porém, são quebradas no Renascimento com o desencadear de duas grandes reformas de caráter religioso: protestante e católica. Reformas estas que estabeleceram novos parâmetros dentro do ensino e cultura.
Iniciado na Itália, o Renascimento deu-se pela tomada de antigas idéias greco-romanas e o choque com os dogmas da Igreja e mundo Medieval. Racionalismo, antropocentrismo, hedonismo, naturalismo e individualismo ganharam força juntamente com o comércio e a burguesia. Novos valores foram estabelecidos nessa passagem considerada o marco do início da Idade Moderna.
O surgimento da imprensa e de diversas reformas de caráter religioso e social contribuíram diretamente na mudança de pensamento do povo e, logo, na educação do mesmo.
Idade Média
A Idade média ou Idade das Trevas foi um período histórico marcante no desenvolvimento da civilização Ocidental Cristã. Caracterizado pela dominação da fé em cima do povo, esse momento teve grandes contribuições dentro da área da filosofia, arte, ciência e tecnologia.
Até a educação girava em torno da religião: as crianças iam para escolas de paróquias e mosteiros. A grande parcela pobre do povo não sabia ler nem escrever enquanto grande parte do conhecimento científico ficava sob os cuidados de monges ou trancafiados longe dos conhecimentos populares.
Ao final da Idade Média muitas transformações tinham ocorrido proporcionando as condições para o surgimento das Grandes navegações, dos Estados Modernos, da burguesia comercial, do Renascimento, dos desdobramentos no pensamento religioso, nas ciências e nas estruturas sociais. Estas transformações proporcionaram mais tarde a descoberta de diversas espécies de plantas e animais, o estudo da óptica resultou em aparelhos como o microscópio e telescópio, surgiram as primeiras universidades e os primeiros estudos da metodologia científica contemporânea.
Renascimento
Como resposta às transformações ocorridas no final da Idade Média surgiu o Renascimento. Fatores antes aceitos sem questionamentos passam a ser estudados e criticados.
A prática da usura (empréstimo de dinheiro com juros), fortalecimento da burguesia e comércio deram origem aos Estados Modernos e ao Mercantilismo que foi marca da Idade Moderna, permitindo mais tarde o aparecimento do capitalismo.
Com o aumento de relações comerciais entre os povos surgiram novas idéias e produtos que se refletiram sobre a sociedade européia da época. A Bíblia foi traduzida para outros idiomas, os camponeses começaram a questionar sua situação financeira e os estudiosos as questões religiosas.
Teorias como o heliocentrismo (o Sol como centro do Sistema Solar) de Nicolau Copérnico, empirismo (método científico) de Francis Bacon e a física newtoniana desbancaram o monopólio intelectual que a Igreja estabelecia. Como cita o site Mundo Educação (2008): “O conhecimento gerado por esses e outros indivíduos lançava a idéia de que o homem não necessitava da chancela de uma instituição que o concedesse o direito de conhecer a Deus ou o mundo”.
Um dos grandes passos tecnológicos dentro do Renascimento foi o surgimento da imprensa, criada no século XV por Johannes Gutenberg.
De acordo com o Wolrd Socialist Web Site (2008), Johannes Gutenberg se associou com um comerciante para utilizar seu invento na impressão de bíblias com a tecnologia de chumbo fundido, material mais duradouro e resistente que a madeira tradicionalmente utilizada: “Die sogenannte Gutenberg-Bibel, umfasste 1282 Seiten. Es war das erste Buch, dessen Druck nach Gutenbergs System mit beweglichen Lettern erfolgte”. (A chamada Bíblia de Gutenberg possuía 1282 páginas. Foi o primeiro livro, cuja impressão se deu com o sistema de tipos móveis de chumbo fundido)
Além da “divisão de águas” na transmissão das informações escritas pela descoberta da imprensa por Gutenberg, que permitiu a popularização das informações escritas, outros fatores e descobertas dessa época fizeram parte do cotidiano da Idade Moderna como a ascensão da burguesia, a astronomia, a expansão comércio e capitalismo, além de diversos estudos dentro das áreas da ciência, filosofia e arte.
As ciências, físicas e matemáticas tiveram grande foco. Ainda que o número de estudantes fosse bastante baixo, as universidades tiveram maior importância nesse período.
Diversos movimentos a favor da valorização e divulgação da cultura foram iniciados. Segundo o site Estudante de Filosofia (2008) “Em Halle (universidade) iniciou-se um movimento em favor da educação dos filhos dos pobres. Campanhas do mesmo estilo foram realizadas na França e na Inglaterra. Os resultados, porém, não foram compensadores”. Apesar de toda a campanha, uma grande massa do povo continuou afastada da cultura.
Vários acontecimentos desviaram o rumo e o foco da didática da educação no período do Renascimento. Dentre eles podemos citar: a influência dos jesuítas, protestantismo e a contra-reforma ou reforma católica.
La Gioconda, umna das mais famosas obras do período renascentista
Foto: http://rghedini.blogspot.com
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Foto:http://www.homeschoolblogger.com
Reforma Protestante
No ano de 1517, um professor de teologia pertencente à Ordem Agostiniana inconformado com a situação da Igreja na sua época formula um conjunto de idéias que mais tarde vieram a ser condensadas e adotadas como princípios da Reforma religiosa que sacudiu a Europa na Idade Moderna, com influencias profundas nos rumos da Renascença. Martinho Lutero idealizador desta nova ordem religiosa inicia a contestação da Igreja Católica Romana ao publicar na porta da catedral de Wittenberg 95 teses criticando a venda de indulgências e a negociação de cargos eclesiásticos.
Lutero passou a pregar que a salvação se dava pela fé e não pelos seus atos e que a Bíblia era a única fonte de consultas para estabelecer dogmas. Por opor-se a uma instituição tão poderosa, obviamente ele foi excomungado e julgado por uma reunião conhecida como Dieta de Worms.
Em 1555 a situação foi revertida através do documento Paz de Augsburg que decretou que cada um dos príncipes alemães teria liberdade para seguir qualquer opção religiosa. Assim nasce a religião Protestante, conhecida por Luterana, que desdobra nos anos seguintes em outras vertentes.
Durante a Reforma Lutero defendeu que a educação era responsabilidade do Estado. Ele queria estabelecer uma “educação universal”, incentivando o estudo de ciências como a matemática e história e propondo exercícios lúdicos como jogos e música.
O sistema educacional alemão após a interferência de Martinho Lutero foi considerado exemplar em vários países, assim sendo copiado e difundido pela Europa.
Reforma Católica
Com medo de perder seguidores, como reação à Reforma Protestante, a Contra-Reforma ou Reforma Católica restabeleceu antigos dogmas da Igreja derrubados pelos protestantes.
A Santa Inquisição, uma lista de livros proibidos, seminários e a Companhia de Jesus marcaram forte presença nessa época.
O Concílio de Trento foi o mais longo concílio ecumênico da história da Igreja, responsável por trazer a Reforma Católica. Atingiu diretamente a educação do povo, pois nele se estabelecia: a catequização de habitantes de novas terras, o Tribunal do Santo Ofício (Inquisição) e o Index Librorium Proibitorium (Índice de Livros Proibidos).
O concílio também emitiu decretos disciplinares, estabeleceu o ritual da missa padrão (Missa Tridentina) proibindo as variações locais, a venda de indulgências foi proibida e para ser um sacerdote era necessário curso de formação.
Este momento da história teve muita importância nas pesquisas genealógicas, pois foi estabelecido na época que as crianças para serem batizadas na Igreja Católica deveriam possuir um nome cristão e um sobrenome de família. Assim, as famílias que ainda não possuíam sobrenomes foram obrigadas a adotar o termo que foi adotado definitivamente.
Com o reconhecimento do Papa Paulo III através da Bula Pontifícia, Inácio de Loiola funda em 1534 a Companhia de Jesus. Esta ordem tinha como principais objetivos a confissão, o ensino e a pregação. Seus membros devem total lealdade ao Papa e obedecem a uma preparação muito rigorosa que inclui os votos de pobreza, obediência e castidade.
A Companhia de Jesus foi criada para disseminar o cristianismo nas colônias. No Brasil, destacaram-se os jesuítas José de Anchieta e padre Antônio Vieira, ambos envolvidos na catequização indígena.
No ano de 1549, junto do primeiro governador geral (Tomé de Souza), chegaram os primeiros jesuítas ao Brasil comandados pelo Padre Manoel de Nóbrega.
No Brasil a contribuição jesuíta foi de extrema importância, além de trabalhos educativos, fundaram a primeira escola elementar brasileira em Salvador e em 1570 já havia cinco escolas de instrução elementar e três colégios espalhados pelo país.
Além de cursos elementares, havia também cursos secundários como Filosofia e Letras e cursos superiores para a formação de sacerdotes adotando Teologia e Ciências Sagradas.
Nas tribos, ensinaram índios a ler e escrever para que pudessem ser convertidos à fé católica, porém, houve também o lado negativo da contribuição para a perda de cultura e escravização dos nativos.
Pintura datada de 1560 representando o Concílio de Trento
Foto: http://vemfazerhistoria.blogspot.com
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Mudanças
Após o renascimento, teatro ganha a sátira e ironia como retrato do cotidiano e a literatura não fica esquecida, desenvolvendo as primeiras formas de romance. Houve seis gêneros importantes: o romance sentimental, o pastoril, o mourisco, o bizantino, o de cavalaria e o picaresco.
Nessa mesma época nascem os ensaios e as biografias, dando destaque à personalidade individual. Os escritores começam a adotar o Francês e Italiano e não mais apenas o Latim nas obras.
A educação caminha junto da mentalidade de um povo. Com o passar dos anos, novas formas de pensamento são absorvidas e a cultura modificada, implicando diretamente nos métodos de domínio e transmissão cultural.
Enquanto alguns lutavam para divulgar, outros queriam ocultar as informações da grande sociedade. Durante séculos a Igreja Católica teve papel decisivo no controle dessas informações, cabendo a ela a decisão final e absoluta de como e quem deve ser favorecido com conhecimento. Um grande passo contra a “ditadura intelectual” foi dado no Renascimento e repercute durante os séculos até o método atual.