"A princípio, quem foi “Asperger”? Hans Asperger (1906-1980) foi um médico austríaco que deu o nome à síndrome, pois foi o primeiro a descrever o transtorno do espectro autista, em 1944. [...] Foi ele também que apontou haver uma predominância desse quadro em meninos" e "Segundo a revista científica Molecular Autism, Hans Asperger, tinha ligações com programas nazistas e cooperou com o regime enviando crianças com deficiência à morte. [...] Historicamente há especulações sobre o Partido Nazista e seu esforço para eliminar crianças com deficiências, já que eram considerados uma ameaça à pureza genética ariana, segundo o líder nazista. Segundo o livro Asperger’s Children: The Origins of Autism in Nazi Vienna (“Crianças de Asperger: As Origens do Autismo na Viena Nazista”, em tradução livre), o médico, que já deu nome à Síndrome, teria encaminhado dezenas de crianças para uma clínica chamada ‘Am Spiegelgrund’, em Viena, onde médicos fizeram experiências com elas, levando as a morte" (ABA, 2021).
"Quase 800 crianças, muitas delas deficientes ou doentes, foram mortas lá. A equipe da clínica dava barbitúricos a elas (uma espécie de medicamento de ação hipnótica e sedativa), o que as levavam à morte por pneumonia" (TISMOO, 2018).
Ainda existem pessoas que defendem o uso do termo e até mesmo duvidam que esse médico tenha participado ativamente desses experimentos, mas como eu já disse: vou só colar... E nem é coisa recente!
"Outros são mais cautelosos, dizendo que a mancha no nome de Asperger não deve apagar suas contribuições para o entendimento do autismo. ‘Não acho que apagar a história seja uma resposta’, diz Herwig Czech, historiador de Medicina na Universidade Médica de Viena e autor do artigo publicado na revista científica Molecular Autism. ‘Acho que também temos que nos separar da ideia de que um epônimo é uma honra absoluta da pessoa. É simplesmente um reconhecimento histórico que pode, em alguns casos, ser incômodo ou problemático’" (TISMOO, 2018).
E EU estando nessa categoria me sinto profundamente ofendida quando sou chamada de Asperger!
" No início da década de 1940, a clínica infantil de Viena Am Spiegelgrund estava sendo usada para eutanásia de indivíduos considerados impróprios para a vida de acordo com o programa que mais tarde seria chamado de Aktion T4. [...]“Há evidências de que ele participou de um comitê que decidiu se as crianças viveriam ou morreriam”, disse o autor e especialista em autismo Steve Silberman à ABC da Austrália" (MCRAE, 2018)
"Hans Asperger: ele era um simpatizante do nazismo ou um homem que dava palavrões a seus chefes? ' ideologia assassina para salvar a vida do maior número possível de seus jovens pacientes? As implicações dessa questão são de longo alcance, porque o trabalho de Asperger sobre autismo na Universidade de Viena na década de 1930 foi ignorado por décadas após a guerra. Isso teve um impacto catastrófico em pessoas autistas e suas famílias, e no curso da pesquisa sobre o autismo. A controvérsia também atinge o cerne da dificuldade de julgar com precisão o comportamento das pessoas que vivem sob regimes brutais, principalmente décadas após o fato" (SILBERMAN, 2016)."Na visão de Donvan e Zucker, Asperger era um oportunista ambicioso que declamou acriticamente a ideologia nazista em sua primeira palestra pública sobre autismo em 1938, e assinou cartas com entusiasmo "Heil Hitler!" Mais devastadoramente, ele assinou uma carta de encaminhamento condenando efetivamente uma garotinha com encefalite chamada Herta Schreiber à morte em uma clínica de reabilitação de Viena que havia sido convertida em um centro de extermínio pelo ex-colega de Asperger, Erwin Jekelius" (SILBERMAN, 2016).
"A clínica infantil onde Asperger trabalhava foi bombardeada pelas tropas Aliadas e, durante décadas, muitas pessoas acreditaram que os registros clínicos haviam sido destruídos. Em 2009, Czech foi convidado a falar em um simpósio comemorativo dos 30 anos de morte de Asperger, que aconteceria em 2010. Isso o inspirou a começar a investigar os arquivos do governo em Viena para obter detalhes sobre o pediatra — onde descobriu os registros clínicos bem preservados. Czech encontrou um arquivo do Partido Nazista que garantiu a lealdade de Asperger ao regime nazista, embora ele não fosse membro. Ele também encontrou palestras que Asperger deu, assim como seus arquivos de casos médicos e anotações" (TISMOO, 2018).
"Czech divulgou um estudo onde explica em detalhes como era a relação entre o famoso médico e o regime nazista. De acordo com ele: “[Asperger] legitimou publicamente as políticas de higiene racial, incluindo as esterilizações forçadas, e cooperou ativamente, em várias oportunidades, com o programa nazista de eutanásia de crianças""(ARRANZ, 2021).
Aula Inaugural de Eduard Pernkopf, novo reitor da Escola de Medicina de Viena, 1938
"Dois anos depois, a historiadora Edith Sheffer visitou os mesmos arquivos de Viena. Sheffer tem um filho com TEA e há muito tempo estava curiosa sobre Asperger, que ela achava ter uma reputação ‘heroica’. ‘Desde o primeiro arquivo que encontrei, vi que ele estava implicado no programa nazista que realmente matou crianças deficientes’, diz Sheffer, pesquisadora sênior do Instituto de Estudos Europeus, da Universidade da Califórnia em Berkeley" (TISMOO, 2018). "Em “Crianças de Asperger”, historiadora revela que, ao contrário do que se acreditava, o médico foi cúmplice dos assassinatos de 5 e 10 mil crianças durante o regime nazista" (TISMOO, 2019).
"De acordo com Sheffer, “arquivos revelam que Asperger participou do sistema de assassinato infantil em múltiplos níveis: ele era próximo de líderes do sistema de eutanásia infantil em Viena e, como membro do Estado nazista, enviou dezenas de crianças para a instituição infantil de Spiegelgrund, onde eram mortas”. Ela mostra que Asperger e seus colegas de fato se esforçaram em proporcionar cuidado individualizado para estimular o crescimento cognitivo e emocional de crianças que estariam na ponta “favorável” do espectro do autismo e tinham potencial para a “integração social”. Por outro lado, as crianças julgadas por apresentarem deficiências maiores não tinham lugar no Reich, sendo pessoalmente examinadas pelos médicos e condenadas à morte." (TISMOO, 2019).
"Ao todo, mais de 800 jovens foram cruelmente mortos por não serem considerados dignos de uma “raça pura”. Além disso, outras 35 crianças foram assassinadas por serem diagnosticadas como “não educáveis”. Entre as formas de homícidio estão por envenenamento e eutanásia. Em 1944, Hans Asperger classificou esses jovens como “psicopatas autistas”, mas em 1980, após sua morte, a classificação foi alterada e os estudos sobre o autismo denominaram a doença como Síndrome de Asperger, em homenagem ao médico. Sheffer, por sua vez, questiona como uma pessoa responsável pela morte de vários inocentes, pode receber este título de honra" (GEARINI, 2020).
"Nos últimos anos, historiadores têm investigado documentos da clínica de Hans Asperger durante o regime. Apesar de não ser filiado ao partido nazista, o pediatra austríaco tinha muita influência no alto escalão, a ponto de coordenar grupos de médicos que atendiam ao regime" (OLIVEIRA, 2021).
Isso foi em 2009, estou escrevendo em 2022 porque ainda usam esse termo!
"Reagindo a essa notícia (fatos citados acima), alguns especialistas dizem que o termo médico homônimo ‘Síndrome de Asperger’ deve ser descartado definitivamente. O ‘Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais’ (DSM-5) já dispensou a síndrome de Asperger por outras razões, observa David Mandell, professor de psiquiatria da Universidade da Pensilvânia. ‘O termo síndrome de Asperger foi colocado em um caixão com o DSM-5, e talvez essa informação seja o último prego em termos de evitar que ela volte’, diz ele" (TISMOO, 2018).
"Apesar de toda sua história ligada ao autismo, uma grave (e grande) mancha foi descoberta na história de Hans Asperger. Relevante o suficiente para muitos não usarem mais o termo “Asperger” para a síndrome que leva seu nome, ainda mais considerando que esse tipo de diagnóstico não existe mais desde 2013, com o lançamento do DSM-5 — a quinta versão do Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais, da American Psychiatric Association, principal organização profissional de psiquiatras e estudantes de psiquiatria nos Estados Unidos —, em que a síndrome foi incluída no diagnóstico de Transtorno do Espectro do Autismo (TEA)" (TISMOO, 2019).
"O DSM-5 já havia dispensado o nome síndrome de “Asperger”, substituindo o termo por Nível I do TEA (Transtorno do Espectro Autista), considerado um quadro mais leve e funcional do espectro do autismo" (ABA, 2021).
"Apesar de não ser oficialmente filiado ao movimento nazista de Adolf Hitler, Asperger trabalhava de modo estreito com os médicos que defendiam procedimentos de eutanásia a pessoas que sofriam de deficiências físicas e mentais. O artigo publicado no Molecular Autism afirma que centenas de crianças com distúrbios neurológicos passaram por experimentos forçados e foram assassinados na clínica de Am Spiegelgrund, em que Asperger trabalhava. [...] De acordo com a pesquisa, Asperger não se limitou a estudar as crianças que apresentavam os distúrbios que caracterizam o autismo. Documentos da época afirmam que o médico austríaco era defensor das ideias de supremacia racial do Partido Nazista e apoiava esterilizações forçadas de membros da sociedade considerados "inferiores", como judeus, ciganos e eslavos" (GALILEU, 2018).