Pois é, porque não encontro muito a respeito disso? Autismo não acaba na infância e muito menos não pode ser diagnosticado depois de uma pessoa estar adulta. Como devo proceder depois do diagnóstico e inúmeros tratamentos errados que passei durante a vida até aqui? Falta tanta informação acessível para quem está perdida no mundo como eu.
Fonte: https://www.dicionariodesimbolos.com.br/simbolos-autismo/
Quando eu estava no período de escola lembro-me que tive uma aula sobre algumas peculiaridades psicológicas que atingem crianças e entre elas foi falado sobre o autismo. Aquele momento foi estranho, pois vários dos sintomas eram coisas bem comuns para mim, além de eu não conseguir interagir ou entender as demais crianças, elas achavam tudo tão esquisito em mim e me chamavam tanto de estranha sem eu saber o que fiz de errado. Foi fazendo bastante sentido de acordo com o que eu aprendi naquele momento, mas com o tempo eu esqueci e não acreditei que eu pudesse fazer parte deste mundo, já que em meados dos anos 90 o autismo era retratado nos meios de comunicação como "crianças estranhas vindas de outro mundo na qual ninguém conseguia se comunicar com elas". Existem até uns filmes antigos sobre isso e algumas animações nada agradáveis. E eu falava e até conseguia me passar por uma pessoa muito tímida e retraída no lugar de alguém totalmente deprimida e cheia de problemas.
Cresci muito isolada e tendo uma amiga só por vez. Não sabia interagir ou administrar amizades, nem começar uma conversa ou mesmo dividir os interesses em comum. Eu prefiro não entrar em detalhes da minha infância e adolescência porque me fazem sofrer muito e teria que entrar em fatos que não vou mesmo que eles pesem bastante no que estou dizendo agora.
Pulando direto para depois dos 20 anos de idade. Passei a frequentar um psiquiatra e me abri para ele sobre minha desconfiança. Sem nem me conhecer muito ele foi logo dizendo que eu não era autista, pois se eu fosse não saberia me comunicar com ele e só crianças são autistas. Ele descartou o fato e foi me enchendo de remédios para depressão e ansiedade. Passei alguns anos "me tratando" com ele (basicamente tomando muitos remédios). Isso foi se repetindo mais tarde: eu mudava de psiquiatra por alguma razão e eles apenas renovavam os remédios ou mudavam, mas sempre me medicando, nada ouvindo e nem falando sobre o que desconfiei antigamente.
Eu já tinha esquecido todos os meus reais sintomas e me convencido que era apenas uma depressão com ansiedade e que isso estragava toda a minha vida. Vários dos profissionais destacaram essa depressão como distimia (um tipo que não tem cura) e nem me davam esperanças falando logo que isso podia ser apenas controlado com medicação e que nunca ia passar.
Foi então que nasceu meu sobrinho diagnosticado com autismo...
Pulando muitos detalhes novamente para não expor o que não estou afim.... Voltei a pensar na hipótese (dos anos 90 para esse momento foram-se uns 20 anos!). Me abri em um teste psicodiagnóstico que fiz por pressão de terceiros e a analista do teste disse que possivelmente eu tinha Asperger (termo que não é mais usado para definir um autismo que não afeta capacidades funcionais), mas ela só ia me diagnosticar se eu continuasse mais tempo e pagando mais... Hahaha... Não foi a primeira!
Seguindo para um próximo e um próximo e outro próximo... Estive em diversos profissionais concordando que sou autista, mas nenhum se achando capacitado o suficiente para me dar o laudo! Os pais de autistas foram os melhores aqui para que eu "abrisse os olhos" sobre o que tenho e realmente procurasse profissionais que me indicaram. Foi então que consegui um diagnóstico depois de adulta vindo de um psiquiatra e de uma psicóloga. Sem um saber do outro, cada um deles me colocou no CID de autismo leve.
Tudo o que eu não entendi eu continuo não entendendo: não sei fazer amigos, conversar, interagir, filtrar comentários, lidar com abstracções, prestar atenção no que não me prende... Busquei informações sobre o que fazer e como lidar com isso e saí chorando: parece que não existe nada que apoie um adulto com autismo, quase tudo é direcionado aos pais de pequenas crianças com o diagnóstico.
Consegui cortar quase todos os remédios psiquiátricos que eu tomava (restou apenas 1!), sinto-me muito melhor a respeito dessa parte, especialmente por entender o que eu realmente tenho. Ao mesmo tempo estou muito mais desorientada e não sei o que fazer e como me adaptar corretamente ao mundo (coisa que nunca soube e que agora me incomoda muito mais por saber o que tenho mas não saber como me guiar em relação a isso).
Estou frequentando atualmente uma psicóloga que já teve contato com autistas (a primeira, finalmente!) e tenho tido mais esperanças. Algo no fundo me diz que sempre vou ser a estranha depressiva que não consegue algo bonito e verdadeiro como as amizades que sempre vejo ao meu redor. Tem gente me apoiando sim (e mais uma vez é algo que vou pular, pois obviamente tem que não está apoiando e prefiro então nem tocar em nenhum dos lados do assunto), mas é aquele apoio tão perdido quanto minha desorientação de como adaptar essa nova informação para ajudar minha vida.
Sinceramente eu tenho desesperança de um dia ser como a maioria das pessoas que acorda, vai trabalhar e dura anos na mesma função... Que tem amigos de longa data e consegue fazer novos com facilidade... Pessoas que confiam e sentem-se entendidas por outras... Aquelas que não tem surtos de choro por estarem deslocadas do mundo... Eu não me vejo assim um dia e não sei nem o limite de onde vai minha melhora com o tratamento correto agora, mas sei que vai ter um limite e sempre senti isso.
A falta de informação nas pessoas do meu dia, nos colegas, professores, coordenadores, vizinhos... Todas as pessoas! Me deixa com esse sentimento de incompreensão e falta de ajuda. Onde estão os materiais para entender autista na vida adulta? Onde estão os programas que informem as pessoas de todas as camadas sobre o que somos e como lidar conosco? Onde está aquele profissional, livro e site de internet que vai me ajudar a lidar com o mundo a partir de agora?
Assumi o que sou, pois deve existir alguém que possa me ajudar ou saiba lidar com alguém que tem essa fitinha colorida. Eu gostaria de mudar o mundo para mudar quem eu sou para o mundo, mas isso não é possível e estou tonta pensando nisso tudo sem chegar em nada.