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MISOFONIA
Barulhinhos que nem são muito altos, mas são repetitivos e chatos, costumam atrapalhar a concentração e tirar muita gente do sério. Ocorre que, para algumas pessoas, esses ruídos são interpretados pelo cérebro como uma verdadeira sessão de tortura. Nestes casos, a reação involuntária a esses sons é tão rápida, abrupta e exagerada que costuma provocar desde acessos de raiva e atitudes agressivas até o isolamento.
Conhecida como Síndrome da Sensibilidade Seletiva a Sons, é uma condição que resulta em reação forte a determinados sons e ruídos. Misofonia é uma desordem neurológica em que estímulos auditivos são confundidos dentro do sistema nervoso central. Pressupõe-se que a causa de misofonia não encontra-se nos ouvidos, mas na disfunção do sistema central auditivo do cérebro. No entanto, muito sobre a misofonia e suas causas ainda é considerado um mistério.
A misofonia causa intenso incômodo ao ouvir sons de volume baixo e repetitivos e esse tipo de estímulo se torna um problema real, a ponto de incapacitar o trabalho e afetar a qualidade de vida de uma pessoa. A condição pode causar forte reação emocional negativa, incontrolável e desproporcional às situações de exposição aos sons, gerando sentimentos como a raiva, o ódio, a irritabilidade e até pânico. Taquicardia, palpitação, sudorese e mal-estar também podem ser associados.
A misofonia não depende exatamente do tipo do som, ou seja, uma pessoa pode apresentar hipersensibilidade a miados de gatos ao longe, mas não se irritar com música alta ou com o barulho de uma obra no vizinho.
HIPERACUSIA
Nesse caso, os pacientes a descrevem como se pudessem ouvir sons que outras pessoas não podem. Na verdade, o sentido correto da hiperacusia é o da hipersensibilidade a sons, em termos de desconforto. Quer dizer, os limiares auditivos tonais de uma pessoa hiperacúsica são os mesmos de uma pessoa normal (ela não ouve melhor que os outros); o que varia é a intensidade necessária para alcançar o desconforto, ou seja, há uma redução na tolerância aos sons. Desse modo, a palavra hiperacusia deve ser restrita a pacientes que se queixam de desconforto a vários tipos de som, mesmo que de baixa intensidade, como por exemplo sons de televisão ou músicas do vizinho.
A hiperacusia tende a ser causada por uma exposição elevada a ruídos com decibéis altos, que pode acarretar algum dano ao nervo auditivo, fazendo com que ele não consiga conviver de forma normal com alguns barulhos. Além disso, ela também pode se manifestar a partir de distúrbios cerebrais, infecções, estresse ou ainda de forma hereditária. A hiperacusia faz com que a pessoa manifeste uma diminuição no limiar de tolerância a sons. Uma pessoa com hiperacusia grave tem dificuldade em tolerar sons cotidianos que podem parecer desagradáveis ou mesmo serem experimentados por ela de maneira dolorosa, mas que são suportados pelas demais pessoas como normais.
O mecanismo dessa dor é similar a ter uma ferida na pele. Se alguém encosta nela, você sente dor. No caso da hiperacusia, a dor é provocada pelo barulho. Sons como pessoas a falar alto, cães a latir, portas fechando, sons de talheres e de pratos causam todos esses sintomas. Por conseguinte, as pessoas com essa condição acabam por se isolar. Afinal, quando tentam conviver no dia a dia, acabam ficando piores para sempre. Existem muitos casos conhecidos em que pessoas em estados severos de sensibilidade ao som acabaram cometendo suicídio.
Semelhanças e diferenças
O que é semelhante na misofonia e na hiperacusia é que ambas as condições são representadas por algum tipo de hipersensibilidade relacionada à audição e a percepção de sons. Além disso, as duas podem ser tratadas. Por outro lado, a principal diferença entre elas é a forma como se manifestam. Enquanto a misofonia está ligada a tipos de barulhos em diferentes volumes, acontecendo de forma frequente, a hiperacusia se relaciona com a percepção de volumes de sons muito mais altos do que realmente são.
No autismo
Uma das características, inclusive presentes na avaliação para o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista, é o Transtorno do Processamento Sensorial e, nele, se destaca a hiper ou hipossensibilidade sensorial. Ou seja, a reatividade aos estímulos sensoriais (tato, olfato, paladar, visão, audição, propriocepção e sentido vestibular). Uma das mais presentes e responsável por crises em autistas é a hipersensibilidade auditiva, que é quando a pessoa apresenta desconforto ou mostra-se assustada quando ouve sons altos. Existem relatos de pessoas dentro do espectro que afirmam sentir dor física quando estão expostos a barulhos altos. As crises geradas pela hipersensibilidade causam perturbação excessiva com ações involuntárias como agressão ou autoagressão, crises de choro, dores, entre outras reações.
Com hipersensibilidade auditiva, muitas pessoas sentem incômodo com sons que, às vezes, passam despercebidos pela maioria. É possível ter os dois diagnósticos (misofonia e hiperacusia) simultaneamente, especialmente no caso de pessoas autistas.
Referências
ESTADO DE MINAS. Autista: como ajudar a controlar as crises causadas pelo barulho dos fogos. 2022. Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/saude-e-bem-viver/2022/12/14/interna_bem_viver,1433292/autista-como-ajudar-a-controlar-as-crises-causadas-pelo-barulho-dos-fogos.shtml. Acesso em: 25 fev. 2023.
COMUNICARE. Misofonia e Hiperacusia: Causas e tratamentos. 2022. Disponível em: https://comunicareaparelhosauditivos.com/misofonia-e-hiperacusia-causas-e-tratamentos/. Acesso em: 25 fev. 2023.
HEAR IT. Misofonia. Disponível em: https://www.hear-it.org/pt/Misofonia-3. Acesso em: 25 fev. 2023.
FONOTOM. Misofonia e Hiperacusia: qual a diferença entre elas e como lidar com o problema? 2021. Disponível em: https://fonotom.com.br/2021/11/13/misofonia-e-hiperacusia/. Acesso em: 25 fev. 2023.
MICROSOM. Você já ouviu falar sobre misofonia? Disponível em: https://www.microsom.com.br/voce-ja-ouviu-falar-sobre-misofonia/. Acesso em: 25 fev. 2023.
MOREIRA, Paula Pfeifer. O que é hiperacusia: relato de quem convive com isso. 2022. Disponível em: https://cronicasdasurdez.com/o-que-e-hiperacusia/. Acesso em: 25 fev. 2023.
SANCHEZ, Tanit Ganz; PEDALINI, Maria Elisabete Bovino; BENTO, Ricardo Ferreira. Hiperacusia: artigo de revisão. 1999. Disponível em: http://arquivosdeorl.org.br/additional/acervo_port.asp?id=107#:~:text=Assim%2C%20tecnicamente%20a%20palavra%20hiperacusia,sons%2C%20em%20termos%20de%20desconforto.. Acesso em: 25 fev. 2023.