24 de fev. de 2022

The Island of Doctor Moreau

    Romance de ficção científica de H.G.Wells publicado em 1896. A história fala de 
"[...] um médico que cria criaturas monstruosas em uma ilha tropical. Moreau é um cientista obcecado pela ideia de transformar animais em homens através de cirurgias e hipnose. A chamada vivissecção é o crime de que Moreau é acusado ao fazer suas experiências dolorosas em animais. Isto o leva a se refugiar na ilha onde desenvolve suas ideias" (Wikipédia, 2021).


    A narrativa é feita pelo sobrevivente de um naufrágio, Edward Prendick, e começa nos dando um bom ensinamento: nunca mande um capitão calar a boca no navio dele! Deixado na ilha do médico maluco, Prendick presenciará todas as criaturas mais bizarras e experimentos dolorosos feitos nas mesmas por alguns meses enquanto aguarda resgate.

    Essa história possui muitas adaptações em quadrinhos, dois filmes bastante famosos, um personagem bem caricata no desenho South Park, David Moreau nos X-Men e mais um punhado de referencias por ai. Em breve terá uma série filmada que já encontra-se em desenvolvimento. Obras como Animal Farm (George Orwell, 1945) e Jurassic Park (Michael Crichton, 1990) claramente beberam dessa fonte ao serem idealizadas.

Dr. Alphonse Mephesto (South Park)
southpark.fandom.com

    Eu acredito que em todas as adaptações  foram inseridos personagens femininos. Não parece necessário, já que a história tem bem poucos personagens humanos. O que me chamou a atenção foi que na primeira adaptação para filme usaram uma pantera negra transformada em mulher para seduzir Prendick e na segunda foi uma mulher que ia virando pantera negra. Nenhuma das duas existe no livro e obviamente o segundo inspirou-se no primeiro.

Pantera-mulher e Mulher-pantera
monstersfilmandlit.wordpress.com e aveleyman.com

    Oculto na narrativa temos diversos significados, logo vou os abordar. Uma coisa que me chamou a atenção ainda falando sobre a segunda adaptação para filme é que, ao contrário da história original e da primeira adaptação, ali são pessoas que vão se transformando em animais. Esse fato muda completamente o sentido da história e destoa completamente da proposta original. Uma outra observação boba é que no livro Moreau toca um berrante que deixa os animais atordoados e tremendo e no segundo filme o controle é feito através de choque que causa o mesmo efeito.

    Aqui temos um total desuso de anestésicos ao "transformar" as criaturas. A falta de empatia muitas vezes é perturbadora, e a justificativa disso é só pelo fato de serem animais e não humanos. O método utilizado para mudar a forma dos mesmos não faz nenhum sentido, mas vamos abstrair isso para entrar melhor na história.

    Uma coisa bem negativa que chama atenção é o fato do personagem principal não perceber que esses "humanos" são na verdade aberrações animais. Como uma pessoa passa pela Priscila da Tv Colosso e acredita que é uma mulher peluda? As pessoas em 1896 eram tão estranhas assim? O bizarro é que no decorrer do livro ele passa até a descrever corretamente qual animal foi mesclado a qual para formar as criaturas que ele está vendo. É como o Clark não se parecer com o super homem só por estar usando óculos. Prendick é realmente um lerdo, pois ele demora para perceber que são animais deformados e também demora para ter medo de Moreau.

Uma mulher peluda (inclusive tem um personagem assim, mas é cinza)
acervo.oglobo.globo.com

    Entre as muitas interpretações para o livro posso citar as mais claras: colonialismo, testes em animais, alcoolismo, política e catequização.

    A metáfora com o colonialismo está bem fluente se considerarmos os selvagens (animais modificados) ditos pelo médico como os habitantes nativos de uma região e toda a imposição do "mestre" como roupas, leis, fala e comportamentos como a dominação de uma comunidade. Muitas vezes os animais assemelham-se a índios sendo catequizados: repetem uma lei como uma reza, possuem medo de um ser considerado superior e inquestionável e nada disso tinham antes de ser imposto à eles. A morte de Moreu causaria o caos se não fosse Prendick apontar para o céu e dizer que o médico ainda está ali, apenas mudou de forma e ainda estaria observando os animais para saber se eles estariam cumprindo a lei e aplicando penas. Aqui claramente temos a criação da figura de um deus onipresente para controlar e impor medo em uma determinada comunidade. Há a criação de uma religião para os animais ficarem sob controle através do medo invisível. 

    O fato de ser muito falado sobre vivissecção, haver diversos experimentos em animais e nada ser citado sobre anestésico ou tratamento melhor para essas criaturas também leva a um paralelo sobre os testes em animais e quais direitos esses seres possuem e seu sofrimento.

    Temos um personagem alcoólatra (Montgomery) que pode claramente fazer uma alusão ao alcoolismo se juntarmos esse fato com a afirmação de que provar sangue deixa os animais loucos (como um alcoólatra provando novamente o álcool). À medida que os animais vão ficando menos civilizados, Montgomery afunda cada vez mais no seu vício e leva algumas das criaturas consigo. É mais um pequeno detalhe escondido no meio da narrativa.

    Um ponto que fica sempre bastante óbvio na narrativa é que a criação de leis com punições para quem não as cumpre estabelece a organização de uma sociedade de maneira política. Dado como exemplo que os animais descumpridores da lei afastam-se do grupo para viverem sozinhos ou são punidos com a morte caso matem seus semelhantes. Afirma-se diversas vezes que os homens sem leis viram animais e que eles são homens e não animais. Que a humanidade regride sem leis e só o bom senso não mantém uma comunidade. Um exemplo prático disso eu vejo no prédio em que eu moro (não há leis e nem síndico) e agora mesmo (19/12) está acontecendo uma mudança de madrugada! 

    Depois de tantas lavagens cerebrais, ameaças e torturas... os animais estão mais humanizados que Moreau e são bem menos monstros que seu criador, mas vão voltando ao estado selvagem à medida que a lei deixa de ser reforçada.

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